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Quo Vadis, José?

por R_9, em 20.09.16

Depois de na temporada passada ter sido demitido do Chelsea, José Mourinho chegou este Verão ao Manchester United. Com ele, chegou também a esperança para os adeptos do clube voltarem a ter as alegrias queSir Alex Ferguson lhes proporcionou durante décadas e que David Moyes e Louis van Gaal (treinadores que sucederam a Ferguson) não conseguiram trazer. Para isso, o mercado foi muito agitado para os lados de Manchester, com muitos milhões a serem gastos pelo United. Chegou Eric Bailly, defesa central contratado ao Villareal e tido com uma grande promessa do futebol mundial; quem também finalmente chegou foi Pogba, já que depois de muitos avanços e recuos, os mais de 100 milhões de euros foram aceites pela Juventus; de Dortmund chegou Henrikh Mkhitaryan depois da melhor época da carreira e onde esteve soberbo ao serviço da equipa alemã; e por fim, Zlatan Ibrahimovic voltou a reencontrar José Mourinho, assinando pelo United depois do contrato com o PSG ter terminado. Estas contratações juntaram-se assim a nomes como David de Gea, Luke Shaw, Morgan Schneiderlin, Ander Herrera, Juan Mata, Memphis Depay, Wayne Rooney, Marcus Rashford e Anthony Martial. As perspectivas com tanta qualidade só poderiam ser boas.

Desde cedo se percebeu que o treinador português ia apostar num sistema com apenas um avançado e dois extremos bem abertos. Depois de uma pré-temporada onde os resultados e as exibições não encheram o olho, os red devils começaram a época oficial a derrotar o campeão Leicester City na Supertaça Inglesa, levantando assim o primeiro troféu oficial da temporada em Inglaterra. Nas primeiras 3 jornadas da Premier League, o treinador português conseguiu o pleno, conquistando 3 vitórias perante o Bournemouth, Southampton e Hull City. Menos também não seria de esperar perante tamanha diferença de qualidade individual, mas, o que se calhar muitos não esperavam, foram as exibições não muito bem conseguidas, onde a equipa não deslumbrava minimamente. Iam valendo as individualidades que a qualquer momento resolviam.

Nestes 3 últimos jogos, as coisas já não correram tão bem. O United foi derrotado por Manchester City, Feyenoord e Watford, e os alarmes começaram a soar em Old Trafford e em Carrington, no centro de estágio da equipa. Ainda para mais, o City, conta por vitórias (e muito futebol) os jogos disputados , o que lhes vale já uma vantagem de 6 pontos em relação aos comandados de José Mourinho. O que também já começou em Manchester, foram os recados por parte do treinador português para alguns jogadores do plantel. Luke Shaw, foi visado como o grande responsável pela derrota contra o Watford, assim como foi pedido a Pogba para esquecer o preço e começar a jogar futebol.

Vi todos os jogos oficiais deste Manchester United, assim como alguns na pré-época. Se ainda acalentava uma esperança de ver o velho Mourinho com um futebol mais atraente e ofensivo, que potenciasse a enorme qualidade individual destes jogadores e que conseguisse mostrar uma boa organização ofensiva, essa mesma esperança rapidamente se esfumou. A juntar a isto, muitas escolhas duvidosas, como por exemplo a titularidade indiscutível de Fellaini no meio-campo e o papel de suplente que Henrikh Mkhitaryan teve até se lesionar.

Em termos defensivos, José Mourinho praticamente não tem mexido no seu quarteto defensivo titular (excluindo a rotatividade no jogo da Liga Europa), e apenas neste último jogo colocou Smalling a titular, relegando Daley Blind para o banco de suplentes. Antonio Valencia é o lateral direito, Eric Bailly dono e senhor de um dos lugares ao centro e Luke Shaw o lateral esquerdo. Na frente deles, tem estado Fellaini como médio defensivo. Em organização defensiva, o Manchester United tem jogado com linhas muito recuadas, onde praticamente não pressiona a construção adversária e quando alguém tenta pressionar, abre-se um enorme espaço entre sectores.

Colocam sempre muita gente a defender no próprio meio-campo, com um aglomerado de jogadores na retaguarda. Muitas vezes vemos o United com 9 jogadores no último terço do campo, sem fazerem qualquer tipo de pressão, tentando depois fechar ali os espaços para a baliza do seu guarda-redes. Depois, muitas referências individuais, com diversos jogadores a marcarem individualmente, não se preocupando com outras referências. Com tanto tempo em organização defensiva, vão-se acumulando também alguns erros individuais. Se David de Gea tem salvo alguns, já noutros nada pode fazer. Em transição defensiva, não reagem forte à perda da bola. A regra é recuperar logo a posição e recuar, mesmo que estejam muitos colegas atrás da linha da bola.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 «Talvez não seja mais um número 9, mas comigo nunca será um número 6, a jogar a 15 metros da baliza. Tem um passe fantástico mas o meu também é… sem pressão. Vai ser um 9, um 9,5 ou talvez um 10, mas não um 6 nem um 8»

 

Como já dei a entender, ofensivamente este United está muito longe de deslumbrar, muito mesmo. Em construção,colocam muitos jogadores bem atrás, retirando a bola aos centrais com muitas vezes os 3 médios a baixarem para perto da linha defensiva. As palavras de José Mourinho sobre Rooney em Julho eram as citadas em cima, mas pouco mais de 2 meses depois, nada daquilo é verdade. Rooney é muito mais um 6 ou um 8 do que é um 9, 9,5 ou 10, estando mais vezes perto da baliza de David de Gea que da do guarda-redes adversário. Osposicionamentos em construção também estão muito mal definidos, sendo muito difícil ligar as fases do jogo. O que tem acontecido é vermos muitas vezes jogo directo cá de trás, na esperança que Ibrahimovic consiga segurar o esférico ou tocar para um colega.

Em criação há uma falta de linhas de passe evidente. São inúmeras as vezes por jogo que os jogadores do United ficam sem solução para dar continuidade ofensiva ao lance, não tendo uma única opção viável para dar seguimento à jogada. Muitos jogadores fora do bloco contrário, com tendência a jogar sempre pelos corredores laterais. A equipa abre-se muito, com os laterais e os extremos muitas vezes na mesma linha e não há soluções no interior. A juntar a isto, há uma enorme lentidão de processos, o que permite aos adversários terem muito tempo para ajustar. Ibrahomovic vai baixando muitas vezes e tentando ajudar os colegas nesta fase, mas nem sempre é servido. Depois quando ele baixa, deixa de existir alguém na frente, e a bola tem de ser jogada para trás. A solução em organização ofensiva são as acções individuais e o jogo pelos corredores laterais, tentando arranjar espaço para os cruzamentos (os jogadores dos corredores laterais poucas vezes têm apoios para as combinações). E isto acontece com um plantel vastíssimo em boas soluções do meio-campo para a frente. Claro que a qualidade imensa que estes jogadores têm, faz com que não sejam necessárias imensas oportunidades para se marcar golos e Ibrahimovic é o expoente máximo disso na equipa. Assim como tanta qualidade pode desbloquear o jogo a qualquer momento em acções individuais.

Em transição ofensiva, claro que são muito perigosos, mesmo partindo com poucos jogadores. Ibrahimovic dá bem os apoios frontais para iniciar a transições e Martial (principalmente ele) e Rashford são duas setas apontadas para as redes adversárias nestes lances. Antonio Valencia também é perigoso nestas transições, mas tem tido pouca liberdade para tal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 É certo que José Mourinho ainda não perdeu nada, pois tem intacta a possibilidade de conquistar todos os troféus em que está inserido. O que eu não creio é que seja com estas ideias e com esta qualidade paupérrima de futebol que o irá conseguir. Tem individualidades que lhe garantirão muitas vitórias mesmo a jogar assim, masquando for preciso algo mais, as coisas vão-se complicar bastante. Nas próximas semanas cá estaremos para confirmar se algo mudou no United e ainda pode existir ali um pouco de Special One.

*http://www.proscout.pt/quo-vadis-jose/

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2 comentários

De Rosso a 23.09.2016 às 11:20

O que achaste do Feyenoord? Entraram fortes este ano. Achas que têm capacidade para suplantarem Ajax e PSV?

De R_9 a 29.09.2016 às 14:58

Boas Rosso,

Defensivamente, mostraram mais qualidade que o habitual em equipas holandesas, mas ofensivamente nada por aí além.

Não acompanho o campeonato holandês com muita regularidade, mas parecem-me ter um colectivo engraçado, mas com bem menos qualidade individual que PSV e Ajax.

Abraço.

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